USP participa de redes de universidades estrangeiras para o avanço em políticas de gênero

Em 2021, o Escritório USP Mulheres participou de cinco redes de universidades, compartilhando desafios e soluções para alcançar a equidade na academia

Por Luana Siqueira e Prislaine Krodi dos Santos

Revisão: Elaine Castilho

Em 2021, o Escritório USP Mulheres intensificou o diálogo com universidades estrangeiras sobre temas de gênero, participando de cinco redes que congregam instituições dos cinco continentes. Além de fazer parte do projeto IMPACTO 10x10x10, da ONU Mulheres, desde 2015, o Escritório participou de outros quatro convênios: a Women’s Research Engineers Network (WREN), a Unión Iberoamericana de Universidades (UIU), a Red de Macrouniversidades de América Latina y el Caribe e, por último, foi firmado um projeto com a Universidade de Birmingham através de uma seleção do prêmio de financiamento do British Council “Women in Science: UK-Brazil Gender Equality Partnerships Call”.

Além de contribuir para o compartilhamento de desafios e soluções para alcançar a equidade na academia, a consolidação da internacionalização empreendida pelo Escritório USP Mulheres neste ano coloca a USP em posição privilegiada no país no debate sobre elaboração de políticas que visem a garantia de direitos das mulheres, dentro e fora da universidade. 

Ao longo deste ano, o Escritório USP Mulheres, representado por sua coordenadora, professora Maria Arminda do Nascimento Arruda – e, nos meses de outubro e novembro, pela coordenadora pro-tempore, professora Adriana Alves – juntamente com a equipe do Escritório, participou de diversas reuniões de organização e planejamento dessas redes e dos eventos delas decorrentes. No total, foram oito eventos públicos ou de culminância realizados em parceria com as universidades estrangeiras.

Principais desafios

Apesar das diferenças sociais, políticas, culturais e econômicas dos países, os desafios em termos de equidade de gênero se assemelham nas instituições com as quais o Escritório USP Mulheres manteve diálogo, mostrando como é urgente e imprescindível a elaboração de políticas que visem a prevenir e sanar os problemas enfrentados pelas mulheres na academia, no mercado de trabalho e na sociedade.

Entre os principais desafios apontados nos eventos com as universidades estão a criação de protocolos de prevenção e atenção para os casos de violência de gênero contra as mulheres, a transversalização da perspectiva de gênero no ensino e na pesquisa e o desenvolvimento de planos de igualdade nas Instituições de Ensino Superior e nos Institutos de Pesquisa.  

Soluções encontradas

As soluções de algumas instituições podem servir de inspiração para as demais. Entre as medidas encontradas pelas universidades parceiras, destacam-se: o compromisso público das altas lideranças para a eliminação da violência e discriminação com base no gênero; o desenvolvimento de redes de colaboração internacional entre pesquisadoras, docentes e profissionais de áreas em que as mulheres são sub-representadas, notoriamente as áreas STEM (Ciência, Tecnologia, Engenharias e Matemática, na sigla em inglês); criação de programas de mentoria e desenvolvimento estratégico de carreira visando ao aumento da representatividade das mulheres em cargos de liderança; elaboração de planos de igualdade com metas, objetivos e prazos bem delineados e a implementação de programas e disciplinas com o objetivo de dirimir as inequidades existentes e transformar as práticas e a cultura do corpo discente, docente e funcional das instituições de ensino superior no que tange à temática de gênero e aos direitos humanos. 


ONU Mulheres – HeForShe Projeto Impacto 10x10x10

Há seis anos, a USP foi uma das dez universidades escolhidas mundialmente para fazer parte do projeto Impacto 10X10X10 do movimento #ElesPorElas (#HeForShe) da ONU Mulheres. Mantendo o calendário dos anos anteriores, as representantes das dez universidades reuniram-se mensalmente por videoconferência para compartilhar desafios, experiências e planejar as próximas ações. 

O Escritório USP Mulheres, além de seguir com os compromissos assumidos nessa parceria, desde o ano passado, contribuiu na articulação do debate na USP a partir das propostas e recomendações da ONU Mulheres sobre as mudanças e impactos da pandemia na vida das mulheres e a importância da participação feminina nas respostas à crise sanitária. 

Em maio de 2021, a coleção de soluções comprovadas de todos os participantes do projeto Impacto 10X10X10 para a igualdade de gênero foi apresentada em um evento de culminância denominado HeForShe Summit. O relatório completo encontra-se disponível no site do HeForShe.


Women’s Research Engineers Network (WREN)

A Women’s Research Engineers Network (WREN) é uma rede de pesquisadoras em Engenharia no Brasil e na Austrália que foi constituída em 2021, liderada pela Universidade de Wollongong (UOW, Austrália) e pela Escola de Engenharia de São Carlos da Universidade de São Paulo (EESC-USP, Brasil) e que conta com o apoio e a promoção do Escritório USP Mulheres. 

Ambas as universidades participam da University Global Partnership Network (UGPN), rede acadêmica que se propõe a criar uma base para a colaboração internacional, permitindo que membros de algumas das melhores universidades do mundo trabalhem juntos em questões de importância global.

A estruturação da WREN visa a mitigar as desigualdades de gênero existentes na área de Engenharia e a assegurar a representação das mulheres nas respostas à pandemia, em consonância com as  recomendações da ONU sobre as mulheres e meninas no centro dos esforços de recuperação da Covid-19. 

Com o suporte da Commonwealth por meio do Council on Australia Latin America Relations (COALAR), Departamento de Relações Exteriores e Comércio, o projeto busca fortalecer as relações entre Austrália e América Latina por meio de tecnologias digitais, contribuindo para a recuperação econômica pós-Covid. 

Entre maio e dezembro de 2021, foram realizados cinco seminários com o intuito de fomentar o intercâmbio entre as pesquisadoras, docentes e profissionais de Engenharia em relação às suas experiências profissionais, aspectos culturais e discussões sobre as barreiras e estratégias para promoção da igualdade de gênero na academia, considerando outros marcadores interseccionais. Foram eles: 

  1. Evento inaugural da WREN (maio)
  2. Fostering success for women in Engineering: Striving for Gender Equity (junho)
  3. Research & Learning Networking – Sparking Collaboration for a Sustainable World (agosto)
  4. FEMINISMS: Why engineers (and everyone) should care? (setembro) 
  5. Career Development & Progression:Creating Your Roadmap to Career Success (dezembro)

Os vídeos dos encontros virtuais estão disponíveis no canal do Youtube da Rede WREN. Uma plataforma digital para conectar profissionais e pesquisadoras em Engenharia está sendo desenvolvida pela WREN e será lançada em 2022. 


Unión Iberoamericana de Universidades (UIU)

A União Iberoamericana de Universidades (UIU) reúne duas alianças estratégicas anteriores: a Aliança Acadêmica Latinoamericana formada pela Universidade de Buenos Aires (UBA), a Universidade Nacional Autônoma do México (UNAM) e a Universidade de São Paulo (USP); e a Aliança Estratégica entre a Universidade de Barcelona (UB) e a Universidade Complutense de Madrid (UCM); ambas instituídas em 2014. Os objetivos da UIU estão centrados em fomentar a colaboração por meio do intercâmbio de estudantes e docentes na realização de projetos conjuntos de pesquisa e ensino.

Desde sua criação em 2016, a UIU organizou seis Escuelas que, em formato jornadas de trabalho, reúnem estudantes e docentes das cinco universidades membro para debater sobre uma ampla variedade de temas como doenças transmissíveis, cidades inteligentes, biodiversidade, museus e patrimônio cultural, estudos hispano portugueses e inovação educativa.

A cada ano e de maneira rotatória, a organização fica a cargo de uma das universidades membro. Em 2021, a Universidade de Barcelona foi a responsável pela Escuela UIU que tratou do tema Gênero e Feminismos, em um formato híbrido, nos dias 9, 10, 11 e 12 de novembro. Dirigida às e aos profissionais técnicos e acadêmicos vinculados às estruturas que trabalham com os temas de igualdade de gênero nas cinco universidades que compõem a rede UIU, a Escuela Gênero e Feminismos foi estruturada em quatro módulos: 1) Políticas de igualdade de gênero e transformação na universidade; 2) Pesquisa em perspectiva de gênero; 3) Ensino na perspectiva de gênero e 4) Violência de gênero e implicações para nossas universidades.

À USP coube a organização do módulo sobre pesquisa em perspectiva de gênero. Após a apresentação institucional do Escritório USP Mulheres feita pela professora Adriana Alves, a professora Marcia Thereza Couto, da Faculdade de Medicina (FM), realizou uma exposição trazendo dados sobre o cenário brasileiro e a USP diante da situação de (des)igualdade de gênero na pesquisa científica e nas instituições acadêmicas, destacando os desafios, avanços e a importância de considerar sexo e gênero nas pesquisas e publicações científicas. As informações apresentadas sobre a USP contaram com a colaboração do Escritório de Gestão de Indicadores de Desempenho Acadêmico (EGIDA), do artigo Sexismo científico: o viés de gênero na produção científica da Universidade de São Paulo e dos trabalhos realizados pela equipe da área de Pesquisas do Escritório USP Mulheres, coordenada pelo sociólogo Rodrigo Correia do Amaral.


Red de Macrouniversidades de América Latina y el Caribe

A Red de Macrouniversidades de América Latina y el Caribe foi fundada em 2002 e reúne universidades de vinte países da América Latina e do Caribe, dentre elas a USP e outras três universidades brasileiras, a Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP), a Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (UNIRIO) e a Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).

Para comemorar o Dia Internacional pelo Fim da Violência Contra as Mulheres, em 25 de novembro, foi organizado o evento “Acciones por la igualdad de género en las macrouniversidades de América Latina y el Caribe”, no qual foi assinada por autoridades de diversas instituições dessa rede a Declaração de Tolerância Zero para a Violência de Gênero nas Universidades, que propõe ações para combater a violência de gênero nas universidades da América Latina. O reitor da USP Vahan Agopyan participou da cerimônia de abertura e assinatura pública da Declaração.

O documento é um marco no enfrentamento a todas as formas de violência de gênero nas universidades que compõem a rede, e prevê uma transformação igualitária, inclusiva, justa e comprometida com os direitos humanos, realizada por meio de reformas jurídicas, normativas e acadêmicas.

As universidades signatárias se comprometeram a realizar campanhas de sensibilização e programas de capacitação; incentivar toda a sociedade a denunciar casos de violência; criar políticas de prevenção, com base em normativas nacionais e internacionais; ampliar a diversidade de gênero em cargos de decisão e promover acordos de cooperação com outras instituições para fortalecer o compromisso de alcançar uma vida livre de violência.


Promoting and strengthening gender equality in higher education: A UK-Brazil perspective

A Universidade de São Paulo e a Universidade de Birmingham (UoB) estão unindo forças com o INCA (Instituto Nacional de Câncer) para impulsionar o progresso na busca da igualdade de gênero nas instituições de ciência, tecnologia, ensino superior e pesquisa no Brasil. Financiado pelo British Council Brasil, o edital contemplou no total sete projetos e tem como objetivo fortalecer os laços entre as instituições e ampliar as políticas de gênero nas universidades e institutos de pesquisa brasileiros, considerando a experiência britânica com o selo de certificação Athena Swan para equidade de gênero. Esse projeto piloto constitui parte de uma proposta maior do British Council para o intercâmbio científico entre instituições de ensino superior do Brasil e do Reino Unido.

Na parceria entre a Universidade de Birmingham, o INCA e a USP, estudantes, acadêmicas e o corpo funcional das três instituições trabalharão conjuntamente para realizar uma série de iniciativas durante os 12 meses do projeto, incluindo a constituição de uma rede “Mulheres na Ciência” que permita a funcionárias e estudantes se encontrarem regularmente para discutir e trabalhar questões relacionadas à igualdade de gênero; o desenvolvimento de um website para apoiar essa rede; a elaboração de recursos digitais e materiais sobre igualdade de gênero para apoiar a capacitação profissional contínua; o oferecimento de workshops e programas de mentoria para promover a igualdade de gênero nas instituições parceiras; o intercâmbio de oportunidades de programas para fortalecer a igualdade de gênero nas redes científicas e a divulgação das iniciativas e resultados do projeto em comunidades científicas e de relações internacionais, por meio de conferências, publicações conjuntas e mídias sociais.

O Instituto de Estudos Avançados da Universidade de São Paulo (IEA) será parceiro do Escritório USP Mulheres nessa iniciativa. Fundado em 1986, o IEA  é um órgão de integração destinado à pesquisa e discussão, de forma abrangente e interdisciplinar, das questões fundamentais da ciência e da cultura. E tem como atribuição realizar, junto a segmentos representativos da sociedade, estudos sobre instituições e políticas públicas (nacionais, estaduais, municipais e até supranacionais). Destacam-se os trabalhos sobre políticas de desenvolvimento da ciência, tecnologia e cultura, bem como sobre o uso social do conhecimento. A igualdade de gênero é um tema interdisciplinar permanente de grupos de pesquisa, cátedras, webinars, publicações e outras iniciativas do órgão.

A Universidade de  Birmingham vem desenvolvendo parcerias com Instituições de Ensino Superior brasileiras há mais de 10 anos e possui um amplo leque de colaborações contínuas envolvendo pesquisa e educação. Classificada entre as 100 melhores universidades do mundo, a UoB recebe pesquisadores, professores e mais de 6.500 estudantes internacionais de mais de 150 países.

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