Fórum Internacional dos Estudantes – NY

No dia 20 de setembro de 2016, terça-feira, foi realizado, às 10 horas da manhã, em Nova York, o primeiro Fórum Internacional dos estudantes, em apoio ao programa HeforShe da ONU Mulheres.

O Fórum foi idealizado no período de agosto a setembro, entre três estudantes: Natalina von Schappach (Universidade de Nova York e atual estagiária da ONU Mulheres); Aloysius Wilfred (Universidade de Hong Kong) e Laís Nicolodi (Universidade de São Paulo).

O espaço onde o Fórum foi realizado e os equipamentos utilizados foram cedidos pelo campus da Universidade de Nova York. O Fórum contou com a presença física de 10 estudantes de Universidades distintas. Havia estudantes da Universidade de Georgetown, Universidade de Nova York, Sciences Po, Universidade de Hong Kong e Universidade de São Paulo. O idioma falado por todos os participantes foi o inglês.

A temática que embasou as discussões do Fórum Internacional dos Estudantes foi sobre violência de gênero e violência sexual dentro da Universidade. Foram discutidos tópicos que abrangem os casos de denúncias feitas nos campi, a noção de justiça para as vítimas, e os estereótipos de gênero que corroboram para esse quadro. A sistematização foi realizada através dos seguintes grandes tópicos e subtópicos:

A) Denúncia de Assédio e Violência

  1. Tipos de violência e de assédio.
  2. Casos de violência nos campi.
  3. Vitimas e o sentimento de culpa.
  4. Identidades de gênero e suas particularidades.
  5. Formas saudáveis de acolher as vítimas.
B) Justiça
  1. Hierarquia – quando há envolvimento de professores e funcionários.
  2. Denunciando às autoridades.
  3. A política da Universidade para lidar com os agressores sexuais.
  4. Autonomia da Universidade e leis do Estado.
  5. Punição e Justiça.

C) Estereótipos 

  1. Por que os estereótipos de gênero existem?
  2. Como os estereótipos de gênero estão relacionados com violência?
  3. Viés da construção social.
  4. Como a campanha do HeforShe dialoga com esses estereótipos.
  5. Lutando contra os estereótipos de gênero – uma proposta feminista.

O cronograma seguido pelos participantes durante o Fórum, foi:

  • 10:00 –10:20: Introdução, apresentações individuais e apresentação das regras.
  • 10:20 – 11:20: Discussões sobre assédio e violência sexual dentro da Universidade.
  • 11:20 – 12:00: Revisão dos pontos principais e sugestões de novas ideias.
  • 12:00 – 12:30: Sumarização e confecção do vídeo final no modelo de Ideathon. O Ideathon pode ser definido como uma experiência intensiva na qual as pessoas tratam de questões e desafios de grande importância. Uma das técnicas usadas pelo grupo é o Brainstorming através do qual são feitos esforços coletivos para encontrar a solução para um ou mais problemas específicos, reunindo uma lista de idéias espontaneamente sugeridas pelos membros durante a conversa.

 

Além da participação presencial dos alunos, o Fórum Internacional dos Estudantes também contou com a participação virtual, através da transmissão em tempo real em vídeo no Facebook. A página do facebook do HeforSheNYU divulgou a gravação do Fórum ao vivo, para que estudantes ao redor do mundo pudessem acompanhar as discussões que estavam sendo feitas e discutir entre si para a confecção do vídeo de cada local. As alunas Beatriz Rossi, Zainne Matos, Clara Coêlho e Laís Marachini da Universidade de São Paulo acompanharam a transmissão ao vivo e confeccionaram um vídeo de sumarização dos tópicos que foram discutidos entre elas. O vídeo foi enviado à página e também foi divulgado na HeforSheNYU.

 

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Estudantes na discussão do Fórum na Universidade de Nova York.

 

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Estudantes na discussão do Fórum na Universidade de Nova York.

 

Experiência pessoal

Lais Nicolodi – USP MULHERES

 

O intercâmbio multicultural e a aquisição de uma bagagem internacional foram algumas das experiências que me foram proporcionadas desde que comecei a confeccionar o Fórum Internacional dos Estudantes com a Natalina e o Aloysius. Fui apresentada aos dois através da Dinal Limbachia, profissional que trabalha na ONU Mulheres, após me apresentar como estudante da Universidade de São Paulo, Universidade membro do programa Impacto10x10x10. Dinal me encaminhou o contato de Aloysius, da Universidade de Hong Kong e também membro do Impacto10x10x10, em Agosto, e a partir dessa ponte começamos a nos reunir pelo Skype para darmos início ao nosso trabalho. Nos reunimos 1 vez por semana pelo período de 1 mês para a idealização do Fórum, até a sua preparação e viabilidade.

No Fórum tivemos uma participação plural de estudantes de diferentes países no campus da Universidade de Nova York (onde foi realizado o Fórum), e tivemos também uma visibilidade alta no vídeo publicado no Facebook – mais de 200 visualizações. Discutir violência de gênero e violência sexual dentro dos campi universitários, além de reafirmar a importância que essa temática tem a nível global, pensar em soluções em conjunto com pessoas de outras culturas e com bagagens completamente diferentes entre si, também me fez perceber como compartilhamos similaridades no que se refere ao nosso esforço coletivo para reverter esse quadro.

Enquanto discutíamos os tipos de violência e os casos de assédio nos diferentes campi universitários, pude perceber a semelhança entre os casos comentados com os que existem aqui na Universidade de São Paulo. Eles ressaltaram um ponto relevante sobre a omissão da Universidade enquanto instituição diante desses casos, como forma de preservar a imagem da Universidade perante a sociedade (uma vez que a maioria dessas Universidades pelo mundo são do setor privado). Conversamos sobre a omissão das autoridades a respeito dos casos de violência sexual tanto como uma forma de negar que o problema exista quanto pelo viés machista de muitas vezes culpabilizar a vítima.

A partir desse gancho, falamos sobre o sentimento de culpa que as vitimas de violência sexual carregam muitas vezes e a sua relação com o machismo, como por exemplo, mulher que acha que a agressão aconteceu com ela porque ela bebeu demais ou porque estava com roupa curta, eximindo – dessa forma – o agressor de qualquer responsabilidade. Além disso, relatamos também sobre a política da Universidade para lidar com esses casos, que muitas vezes se faz insuficiente e incompleta e sobre a necessidade de se reformular isso.

Depois desse bloco, a discussão foi sobre estereótipos de gênero e a noção do feminismo. Os estudantes, principalmente os homens, falaram a respeito da importância que havia em chamar a todos para o debate sobre a violência de gênero e sobre a noção de representatividade. Quando conversamos sobre representatividade feminina a discussão ganhou um caráter político, eu falei um pouco do cenário político do Brasil, o Aloysius falou um pouco sobre suas impressões pessoais a respeito do cenário político norte-americano e a discussão passou a ser sobre as eleições que estão se aproximando. Houve algumas discordâncias no que se refere aos impactos políticos que haveriam sobre a eleição de uma presidente mulher para os EUA. Alguns estudantes acham que ter uma mulher presidente trará impactos significativos para o país, outros acham que apenas isso não é o suficiente para uma mudança efetiva.

Finalizamos o Fórum com uma sumarização das questões mais importantes que foram discutidas (esse vídeo também consta na página do HeforSheNYU pelo link) no qual cada um dos participantes falou sobre algum dos pontos discutidos e fez suas considerações finais a respeito dele. Eu falei sobre a importância das vítimas de violência realizarem a denúncia contra seus agressores, pois muitas são desencorajadas por medo e também por carregarem um sentimento de culpa. Falei sobre a necessidade de esclarecermos que as mulheres não devem se sentir culpadas ou responsáveis pela agressão que sofreram e sobre os benefícios que elas podem ter quando fazem a denúncia.

De forma geral, pode-se dizer que o combate à violência contra a mulher demanda ações coletivas e globalizadas, e que isso entra em acordo com a proposta do programa HeforShe sobre a inclusão de todos os homens e mulheres no debate sobre desigualdade de gênero. Com relação a minha impressão pessoal, devo dizer que foi bastante recompensador, durante a minha participação do Fórum, perceber que essa é uma causa que já move estudantes efetivamente ao redor do mundo inteiro e que o movimento global está caminhando na direção certa.

Experiência pessoal

Beatriz Rossi – USP MULHERES

 

Na manhã do dia 20 de setembro de 2016 (terça-feira), ocorreu, na Universidade de Nova Iorque (NYU), um fórum de estudantes que contou com a presença de universitários de diferentes países. Os estudantes discutiram sobre a questão da desigualdade de gênero e violência sexual, e quais são os desafios a serem enfrentados pelas universidades nesse momento.

O evento foi transmitido ao vivo pela página do facebook “HeForSheNYU”. Assistimos, no escritório USP Mulheres, a algumas partes da transmissão (que durou em torno de uma hora). Aqui estavam presentes duas estagiárias do escritório e duas estudantes do curso de ciências sociais, convidadas para participar. Enquanto assistíamos, discutíamos entre nós sobre as questões colocadas no debate.

Identificamos que a maior parte dos problemas presentes nas realidades de outras universidades ao redor do mundo (dentre elas os Estados Unidos, China, México e Índia) é muito semelhante aos problemas que enfrentamos na Universidade de São Paulo. Ainda não há, nem aqui nem em outros lugares, uma orientação clara ás vítimas de assédio sexual e estupro quanto ao que devem fazer após terem sofrido a violência. As barreiras a serem enfrentadas são muitas, é um processo que tem se mostrado difícil nas diferentes partes do mundo. Primeiramente, é necessário o reconhecimento de que a culpa foi do agressor, e que, portanto, é legítimo que o caso seja denunciado. Na contramão disso, exaltamos o como é frequente a culpabilização da vítima, por ela mesma e pelos outros.

Também comentaram, no fórum, a necessidade de os homens se envolverem na causa. Apontaram que é comum os homens se dizerem apoiadores do movimento por igualdade de gênero, enquanto, na verdade, não agem nesse sentido. Isso é algo presente também entre estudantes homens no Brasil, que frequentemente se mostram mais dispostos a serem reconhecidos como aliados das mulheres do que se mostram dispostos a de fato reverem seus comportamentos e modo de pensar.

No evento, foi ressaltada a importância de se aplicar surveys nas universidades, para que a instituição reconheça o problema através de números concretos. Comentamos, entre nós, sobre a pesquisa que estamos elaborando atualmente no USP Mulheres, em parceria com professores.

Após a transmissão, gravamos no escritório um vídeo (de aproximadamente um minuto) que foi enviado para os presentes no fórum em Nova Iorque. No vídeo, falamos brevemente sobre como a USP se insere nesse cenário de desigualdade de gênero e violência sexual. Nesse sentido, apontamos para a importância das organizações não institucionais de professoras, pesquisadoras e alunas da universidade (como a Rede Não Cala! e os coletivos feministas), que possuem como principal objetivo o amparo às vítimas de assédio sexual e estupro. O vídeo foi no mesmo dia compartilhado pela página que transmitiu o fórum de estudantes.

 

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Estudantes da Universidade de São Paulo participando do Fórum no Escritório USP Mulheres.