O Escritório USP Mulheres foi criado em 2016 em resposta ao convite da ONU Mulheres
*Por Luana Siqueira e Prislaine Krodi dos Santos
Há uma década, em 2 de julho de 2010, a Assembléia Geral da ONU votou a criação da ONU Mulheres para atuar na defesa dos direitos das mulheres e meninas e na igualdade de gênero em todo o mundo. Nos últimos quatro anos, a USP segue conveniada à ONU Mulheres para promover projetos na área de igualdade de gênero e empoderamento das mulheres no âmbito da Universidade.
Em 2015, a USP foi uma das dez universidades escolhidas mundialmente para fazer parte do projeto IMPACTO 10X10X10 do movimento #ElesPorElas (#HeForShe, em inglês) da ONU Mulheres, sendo a única da América Latina. O projeto convocou dez presidentes de empresas, dez chefes de governo e dez reitores de universidades para desenvolver iniciativas e advogar pela igualdade de gênero. Assim, em 2016, foi criado o Escritório USP Mulheres, vinculado ao Gabinete da Reitoria, com o objetivo de propor e coordenar ações entre a administração central e a comunidade universitária no que tange a essa temática.
Os representantes das dez universidades reúnem-se mensalmente por videoconferência e duas vezes ao ano de forma presencial com os responsáveis do #HeForShe para compartilhar desafios, experiências e planejar as próximas ações. Os avanços e resultados das universidades, empresas e governos são apresentados anualmente em um evento comemorativo do aniversário do movimento #HeForShe, logo após a realização da Assembleia Geral da ONU, no mês de setembro. Nessa ocasião, é lançado o relatório anual do projeto, chamado Parity Report, disponível no site do movimento #HeForShe, da ONU Mulheres.
Devido à crise sanitária mundial de covid-19 e a todas as dificuldades sociais e econômicas dela decorrentes, a ONU Mulheres optou por passar este aniversário de maneira discreta, deixando as atividades de comemoração para o próximo ano. O Escritório USP Mulheres não poderia, porém, deixar de prestar sua homenagem e relembrar os anos de parceria.
O convite da ONU Mulheres para participação no projeto foi fundamental para a consolidação do debate e estabelecimento de uma agenda de políticas de gênero na USP, pois, anteriormente, não havia nenhuma estrutura institucional para responder a essas demandas. O desafio foi triplo: simultaneamente constituir e estruturar o Escritório USP Mulheres, responder aos compromissos firmados com a ONU Mulheres e trabalhar com uma comunidade de cerca de 95 mil pessoas em nove cidades.
A conscientização e a mobilização da comunidade universitária, incluindo os dirigentes e lideranças da USP, foram necessárias para dar visibilidade à violência de gênero e à discriminação presentes na Universidade. As campanhas visuais promovidas pelo Escritório tiveram papel essencial nesse sentido, causando impactos e provocando debates. Assim como as iniciativas de estudantes, servidores e dirigentes para pautar o tema no dia a dia das unidades e em momentos cruciais, como na recepção aos ingressantes da graduação. Foram realizados inúmeros seminários, mesas-redondas, entrevistas e debates nos últimos anos. Esse movimento culminou com a publicação em 2019 de um dossiê especial sobre Feminismos na Revista da USP, em seu número 122, organizado pela então coordenadora do Escritório, a professora emérita da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) Eva Alterman Blay.
Outras ações que merecem destaque nos primeiros anos do Escritório USP Mulheres foram o apoio para a criação das Comissões de Direitos Humanos nas unidades para receber denúncias e acolher as pessoas que viveram alguma violação de direitos na Universidade e a realização da pesquisa Interações na USP, sob a coordenação do professor Gustavo Venturi, do Departamento de Sociologia da FFLCH, que abordou as vivências interpessoais dos estudantes durante sua trajetória acadêmica, revelando quantitativa e qualitativamente as formas de violência, humilhação e discriminação mais frequentes na Universidade.
Desde o final do ano passado, sob coordenação da professora e socióloga Maria Arminda do Nascimento Arruda, também da FFLCH, o Escritório USP Mulheres tem se voltado para institucionalizar as iniciativas de enfrentamento à violência e promoção da igualdade de gênero. Para isso, o trabalho foi reorganizado em três áreas – Pesquisas, Programas e Comunicação –, voltando-se para medidas que fortaleçam o diálogo com os movimentos internos e externos à comunidade universitária e ampliem os impactos estruturais, equiparando as oportunidades para as mulheres no âmbito da Universidade, como apresentado no artigo Construir a igualdade, assinado pela coordenadora e pelo reitor, Vahan Agopyan, no último mês de março.
A iniciativa do USP Mulheres é pioneira entre as universidades brasileiras e enfatiza a prevenção como a principal medida para o enfrentamento à violência e promoção da igualdade. A atuação do escritório tem inspirado a constituição de iniciativas semelhantes em outras instituições de ensino e pesquisa no país, contribuindo para o cumprimento do papel da Universidade junto às sociedades paulista e brasileira.
Atuação na pandemia
Durante a pandemia de covid-19, a ONU Mulheres tem atuado ativamente alertando e orientando governos, empresas e a sociedade para as mudanças e impactos na vida das mulheres. A organização tem produzido diversas publicações e materiais abordando a sobrecarga das mulheres em tarefas domésticas e cuidados com familiares; o aumento da violência doméstica com o isolamento social; a fragilidade econômica das mulheres decorrente da menor remuneração e dos trabalhos informais; além dos cuidados com a saúde das mulheres e das trabalhadoras da área da saúde. Para enfrentar tais problemas, são sugeridas ações prioritárias de resposta imediata e de recuperação no longo prazo, que podem ser conferidas no documento oficial publicado no último mês de abril.
Em maio, a ONU Mulheres lançou a campanha #ElesPorElasEmCasa, com o objetivo de incentivar os homens a assumir tarefas e equilibrar o trabalho cotidiano em suas famílias, transformando definitivamente as relações de gênero dentro de casa. O Escritório USP Mulheres tem se engajado nessa proposta e promoveu, em junho, a campanha “A USP unida pela igualdade de gênero” e está preparando uma segunda campanha, abordando a violência doméstica, voltada para a percepção e a intervenção adequada diante desse grave problema social e de saúde pública.
Celebrando a data e a parceria institucional
Em reconhecimento a todas essas iniciativas e ações imprescindíveis para um mundo mais saudável e igualitário, o Escritório USP Mulheres celebra o aniversário de dez anos da ONU Mulheres e a nossa parceria institucional.
O Escritório USP Mulheres, desde a sua criação em 2016, suscitada pelo movimento HeforShe da ONU, vem desenvolvendo projetos e ações nas áreas de repúdio à violência de gênero e de afirmação de condições igualitárias entre mulheres e homens em todas as áreas de atuação da Universidade de São Paulo. Para além do conjunto de iniciativas já realizadas, presentemente, o Escritório vem estruturando uma política duradoura de promoção de direitos e de eliminação das desigualdades de gênero.
Neste momento tão significativo de comemoração dos dez anos de criação do projeto da ONU voltado à eliminação das desigualdades de gênero, a Universidade de São Paulo e o Escritório USP Mulheres não apenas se somam a todas as expressões de reconhecimento da importância inexcedível do projeto ONU Mulheres, quanto, sobretudo, reafirmam o seu compromisso de atuar no sentido de eliminar, no âmbito da Universidade, todas as formas iníquas de desigualdades. Nossos calorosos cumprimentos por essa trajetória de êxito e de conquistas.
Maria Arminda do Nascimento Arruda, coordenadora do Escritório USP Mulheres
A parceria da USP com a ONU Mulheres, por meio do Escritório USP Mulheres, foi marcante para que a Universidade pudesse introjetar a preocupação de Gênero nas suas atividades e na convivência da comunidade.
Este relacionamento foi fortalecido quando a USP foi convidada a participar da iniciativa #ElesPorElas em 2015. Nessa ocasião, assumimos compromissos mensuráveis que levamos adiante, começando com a questão da violência, que, felizmente, foi reduzida em nossos campi.
Agora, em 2020, esperamos ampliar ainda mais esse vínculo, reforçando nossas atuações junto à instituição internacional e esperando que, com isso, possamos reforçar cada vez mais as nossas iniciativas internas, superando os obstáculos ainda existentes na sociedade brasileira e no ambiente universitário.
Espero que o lema do programa #ElesPorElas seja melhor compreendido na nossa comunidade e, com isso, o problema de Gênero superado. Isto só será possível quando nós, os homens, formos feministas.
Vahan Agopyan, reitor da Universidade de São Paulo
Fotos: Marcos Santos / USP Imagens